Um estudo inovador identificou duas moléculas que ocorrem naturalmente – agmatina e tiamina (vitamina B1) – que podem revolucionar a detecção e o tratamento do glaucoma, uma das principais causas de cegueira irreversível. Pesquisadores da Universidade de Missouri descobriram uma correlação significativa entre níveis reduzidos dessas moléculas em pacientes com glaucoma, sugerindo seu potencial como biomarcadores de diagnóstico precoce e alvos terapêuticos.
O problema do glaucoma
Glaucoma é um grupo de doenças oculares caracterizadas por danos progressivos ao nervo óptico, muitas vezes associados à pressão elevada dentro do olho. Embora os tratamentos atuais possam retardar a progressão da doença, não há cura e muitos indivíduos permanecem sem diagnóstico até que ocorra perda significativa da visão. A natureza insidiosa da doença torna crítica a detecção precoce, mas os métodos existentes muitas vezes não conseguem identificar os pacientes nos estágios iniciais.
A Descoberta: Agmatina e Tiamina
O estudo, liderado pelo pesquisador oftalmológico Pawan Singh, examinou o humor aquoso (líquido no olho) de 19 pacientes com glaucoma e 10 indivíduos saudáveis, analisando 135 metabólitos diferentes. Os resultados revelaram que a agmatina e a tiamina foram notavelmente reduzidas nos olhos das pessoas com glaucoma. Esta redução sugere que estas moléculas desempenham um papel crucial na manutenção da saúde da retina e na proteção contra a neuroinflamação.
Resultados laboratoriais
Outras experiências em células fotorreceptoras de camundongos estressadas confirmaram os efeitos protetores da agmatina e da tiamina. As moléculas demonstraram reduzir a inflamação e prevenir a morte celular, indicando seu potencial como agentes neuroprotetores. Em modelos animais, o aumento dos níveis destes compostos também reduziu a inflamação da retina e melhorou a visão.
Implicações para detecção precoce
As descobertas abrem a possibilidade de desenvolver exames de sangue simples para identificar indivíduos em risco de glaucoma muito antes do aparecimento dos sintomas. “Se os médicos pudessem verificar estes biomarcadores, poderiam detectar a doença muito mais cedo, antes que ocorresse a perda de visão, para que os pacientes pudessem receber tratamento mais cedo”, diz Singh. Esta abordagem proativa poderia prevenir a cegueira irreversível em inúmeros indivíduos.
Potencial Terapêutico
Além do diagnóstico, a agmatina e a tiamina também podem servir como novos alvos terapêuticos. A sua capacidade de reduzir a inflamação e proteger as células ganglionares da retina sugere que podem retardar ou mesmo reverter os danos nos nervos em pacientes com glaucoma. Embora ainda sejam necessários testes em humanos, os resultados laboratoriais são altamente promissores.
O panorama geral
O glaucoma afeta milhões de pessoas em todo o mundo e espera-se que a sua prevalência aumente com o envelhecimento da população. Os tratamentos atuais concentram-se principalmente no controle da pressão ocular, mas os processos neurodegenerativos subjacentes permanecem pouco compreendidos. A descoberta da agmatina e da tiamina oferece um novo caminho para a investigação, conduzindo potencialmente a terapias mais eficazes e intervenções mais precoces.
Direções Futuras
Os investigadores enfatizam que são necessários mais estudos para confirmar as suas descobertas em coortes humanas maiores. Os ensaios clínicos serão cruciais para determinar a dosagem ideal e os métodos de administração da agmatina e da tiamina no tratamento do glaucoma. O objetivo a longo prazo é desenvolver uma ferramenta de diagnóstico não invasiva e uma estratégia preventiva que possa travar a progressão desta doença debilitante.









































