Metformina: medicamento para diabetes que atua diretamente no cérebro

17

Durante mais de seis décadas, a metformina tem sido uma pedra angular no tratamento da diabetes tipo 2, conhecida principalmente pelos seus efeitos na regulação do açúcar no sangue. No entanto, pesquisas recentes revelam que a droga opera através de uma via anteriormente não reconhecida: ação direta no cérebro. Esta descoberta poderia remodelar o tratamento do diabetes e potencialmente ampliar as aplicações da metformina.

A conexão cerebral inesperada

Pesquisadores do Baylor College of Medicine identificaram um mecanismo neural específico através do qual a metformina parece funcionar. Embora tradicionalmente se entenda que reduz a produção de glicose no fígado e no intestino, o estudo demonstra que a metformina também influencia o metabolismo da glicose diretamente no cérebro.

“É amplamente aceito que a metformina reduz a glicose no sangue principalmente ao reduzir a produção de glicose no fígado. Outros estudos descobriram que ela atua através do intestino”, diz Makoto Fukuda, fisiopatologista de Baylor. “Examinamos o cérebro, pois ele é amplamente reconhecido como um regulador chave do metabolismo da glicose em todo o corpo. Investigámos se e como o cérebro contribui para os efeitos antidiabéticos da metformina.”

Mecanismo Chave: A Proteína Rap1

O estudo centra-se numa proteína cerebral chamada Rap1, localizada no hipotálamo ventromedial (VMH). Pesquisas anteriores da mesma equipe indicaram o envolvimento do Rap1 no metabolismo da glicose.

O seu estudo de 2025 em ratos confirmou que a metformina viaja para o VMH, onde efetivamente desativa o Rap1, contribuindo para os efeitos antidiabéticos do medicamento. Quando os ratos foram criados sem Rap1, a metformina perdeu a sua eficácia – mesmo enquanto outros medicamentos para a diabetes permaneceram eficazes. Isto estabelece que a ação da metformina no cérebro opera através de um mecanismo distinto.

Neurônios SF1 e tratamentos direcionados

Os pesquisadores identificaram neurônios SF1 específicos dentro do VMH como sendo ativados pela metformina. Isto sugere que a droga influencia diretamente esses neurônios, potencialmente abrindo caminho para terapias mais direcionadas. “Também investigamos quais células do VMH estavam envolvidas na mediação dos efeitos da metformina”, diz Fukuda. “Descobrimos que os neurônios SF1 são ativados quando a metformina é introduzida no cérebro, sugerindo que eles estão diretamente envolvidos na ação da droga”.

Implicações e pesquisas futuras

A segurança estabelecida, a acessibilidade e o uso a longo prazo da metformina tornam esta descoberta significativa. A droga já funciona melhorando a eficiência da insulina e reduzindo a produção de glicose no fígado, mas agora está claro que o cérebro também é um alvo importante.

A equipa de investigação sublinha que estes resultados devem ser validados em estudos humanos. No entanto, uma vez confirmados, os resultados poderão levar a tratamentos otimizados que aproveitem os mecanismos de atuação cerebral da metformina. Este entendimento também se conecta a estudos anteriores que mostram que a metformina pode retardar o envelhecimento do cérebro e prolongar a vida útil, sugerindo aplicações potenciais mais amplas.

“Esta descoberta muda a forma como pensamos sobre a metformina”, conclui Fukuda. “Não atua apenas no fígado ou no intestino, mas também atua no cérebro.” Ele acrescenta que o cérebro responde a concentrações mais baixas de metformina do que o fígado e os intestinos, indicando um mecanismo mais eficiente.

As descobertas foram publicadas na Science Advances.

Esta pesquisa marca uma mudança de paradigma na compreensão da metformina, sugerindo que todo o potencial terapêutico do medicamento ainda não foi alcançado. Investigações adicionais são cruciais para traduzir essas descobertas em melhores tratamentos para diabetes e potencialmente outras condições relacionadas à idade.